Semana anterior lembramos que no dia 10 de março comemoraram-se 451 anos do primeiro culto protestante a Deus nas Américas, ocorrido na baía de Guanabara, como grande marco da missão França Antártica.
Os huguenotes (protestantes franceses) aqui chegaram em 11 de outubro de 1555 para formar uma colônia que servisse de refúgio da perseguição aos crentes da Europa. Todo este processo de tentativa encerrou-se em 11 de setembro de 1560 com a queda da colônia francesa em mãos do general português Men de Sá. O motivo do desastre foi a ambição de Villegaignon:
“Suspeitas e inseguranças lhe perturbariam logo o governo. Villegaignon desconfiava dos índios tamoios tanto como dos seus próprios homens; desconfiava, mais ainda, das potências européias que podiam disputar-lhe a soberania; e esta desconfiança o faria cometer arbitrariedades.”[1]
Arbitrariedades que resultariam
“Entre os primeiros franceses que vieram ao Rio de Janeiro em companhia de Nicolau Villegaignon, de que tratamos em capitulo oitavo deste livro, vinha um herege calvinista chamado João Bouller, o qual fugiu para a capitania de São Vicente, onde os portugueses o receberam cuidando ser católico, e como tal o admitiram em suas conversações, por ele também na sua eloqüência e universal língua espanhola, latina, grega, e saber alguns princípios da hebréia, e versado em alguns lugares da sagrada escritura, com os quais, entendidos a seu modo, dourava as pílulas e encobria o veneno aos que o ouviam e viam morder algumas vezes na autoridade do sumo Pontífice, no uso dos sacramentos, no valor das indulgências, e em a veneração das imagens. Contudo não faltou quem o conhecesse (que ao lume da fé nada se esconde), e o foram denunciar ao bispo, o qual condenou como seus erros mereciam e sua obstinação, que nunca quis retratar-se, pelo que o remeteu ao governador, o qual o mandou que, à vista dos outros que tinha cativos na última vitória, morresse em mãos de um algoz. Achou-se ali para o ajudar a bem morrer o padre José de Anchieta, que já então era sacerdote, e o tinha ordenado o mesmo bispo D. Pedro Leitão e, posto que no principio o achou rebelde, não permitiu a divina providencia que se perdesse aquela ovelha fora do rebanho da igreja, senão que o padre com suas eficazes razões, e principalmente com a eficácia da graça, o reduzisse a ela. Ficou o padre tão contente deste ganho, e por conseguinte tão receoso de o tornar a perder que, vendo ser o algoz pouco destro em seu oficio e que se detinha em dar a morte ao réu e com isso o angustiava e o punha em perigo de renegar a verdade que já tinha confessada, repreendeu o algoz e o industriou para que fizesse com presteza seu ofício, escolhendo antes pôr-se a si mesmo em perigo e incorrer nas penas eclesiásticas, de que logo se absolveria, que se arriscar aquela alma à penas eternas.”[3] [Grifos nossos]
E assim, como essas linhas, tentando encontrar no algoz de São Vicente um motivo heróico para um assassinato frio, encerra-se a primeira oportunidade de se estabelecer em terras do Brasil uma colônia protestante.
Rev. Gilmar Araújo Gomes
Extraído do texto "Subsídios para a história do presbiterianismo em Sergipe", monografia de conclusão de curso.
[2] João RIBEIRO, História do Brasil, 9ª ed., (São Paulo: Livraria Francisco Alves, 1920), p. 131-132.
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