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Todo fim de tarde ela sai à
procura. A partir das 16h começa a se inquietar. Sai de casa, vai às ruas,
volta para casa na madrugada. A busca é desesperada, ensandecida, urgente e
marcada pela carência. Seus ouvidos estão atentos, presta atenção a qualquer
voz, qualquer palavra de ordem, elogiosa ou não. Tenta ouvir o som que estimule
seus membros.
Ela entende que as ruas lhe caem
bem. No espaço público ela encontra vigor. Não respeita seu ordenamento, tromba
aqui e acolá com o conceito de civilidade e urbanismo. A geografia muda quando
ela passa. Convenhamos, não é a coisa
mais linda, nem cheia de graça, mas ninguém fica indiferente à sua passagem.
Nada e ninguém.
Terça-feira, 18/06/2013, parecia
que sua busca tinha acabado. Em meio à multidão, suas esperanças se
personificaram na figura que se mostrou valente à porta da prefeitura. Rosto
coberto, mãos ocupadas a depredar o patrimônio público. Anonimato e voracidade,
irresponsabilidade e agressão juntas pareciam indicar o amante perfeito.
A musa apaixonada atende pelo
nome de Revolução, antiga que é, sempre que ressurge apresenta-se com a
vitalidade de uma pitonisa, promovendo culto inebriante pela oferta de si mesma
ao deleite dos que lhe consagram vozes, pernas e braços. Não dispensa o sangue
e o suor, alheios, claro.
Com o ímpeto de uma viúva negra,
Revolução ama mortalmente. Em seu peito os amantes se entregam até o fôlego
final. Não sem antes produzir uma relação patológica e viral. Por ela se mata,
por ela se morre.
Como disse, Revolução ama e ama
muito. Manda e é mandada. Seus queridos, que por ela se entregam sangrenta e
incontrolavelmente, ora lhe dão ordens, ora são por ela dominados. Em 1917, seu
amante era Lênin; em 1931, Mao Tsé dominava seu coração; em 1959, Fidel lhe
concedia favores. Fidelidade não é característica sua. Ela ama quem a ela se
entrega.
Por isto mesmo, poucos a amaram
como Robespierre o fez de 1792
a 1794. Ele venceu a disputa entre fortes concorrentes.
Declarou seu amor e conquistou sua paixão. Deu provas sangrentas de sua
devoção. Puxou-lhe pelas mãos o quanto podia, depois perdeu a cabeça em
sacrifício vivo. Que prova de amor! Entregou-se pela amada e foi por ela
consumido. A Revolução nunca o esqueceu, sempre esperou encontrar alguém assim
novamente, que consiga preencher o vazio de uma tão forte paixão.
Em junho deste ano, a Revolução
veio ao Brasil. Chegou tímida, ainda parece indecisa para onde ir. Falta-lhe um
amante que a lidere, espera ouvir ordens de comando, deseja encontrar uma idéia
que a seduza, um elogio que movimente seu corpo. Na última terça-feira parecia
que a procura chegara ao fim. Recolheu-se naquela madrugada apaixonada, certa
de que voltaria a ser comandada. No dia seguinte, seu possível amante sumiu.
Confiante e segura de si como estava, a Revolução foi visitar outras cidades,
conhecer melhor o Brasil. Voltar a ver seu mais novo pretendente era questão de
tempo, e tempo não sufoca o ímpeto patológico da Revolução. A história já
mostrou.
No entanto, quando ela pensava
que tinha reencontrado seu amante mais fugaz, este a decepciona profundamente. Apareceu
dois dias depois, desfazendo suas esperanças. Pede desculpas, mostra-se
arrependido, finge não amá-la tanto. Publicamente, Pierre apresenta-se como
criança chorona, menino inconseqüente que diz ser outra coisa, está disposto a
pagar pelas suas traquinagens. Ele não se mostrou homem suficiente para ela. Não
merece o amor da Revolução.
Sendo assim, a Revolução continua
sem direção, sem dono. Por enquanto.
Para o bem do Brasil e sua tímida democracia, espero que
este amor não se realize, porque agora que Pierre a decepcionou, a Revolução em versão
tupiniquim se viu desorientada e continua procurando um novo Robespierre que
lhe ame tanto como outrora.
Gilmar Araujo Gomes
21-junho-2013, 23h54min
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