FUTEBOLATRIA*
Por ocasião da
decepção canarinha!
Há um culto no qual o
brasileiro se tornou especialista, pretendo chamá-lo de FUTEBOLATRIA. Não é um
ritual que começou a ser praticado agora, ele já existia. A cada quatro anos
este culto atinge seu ponto alto. É fácil percebê-lo nas ruas, nos noticiários
de televisão, no vestuário, no rádio, etc.
Mas aqui não quero falar
necessariamente do futebol, e sim da latria,
palavra no latim que denuncia um profundo vazio do nosso povo, o vazio da alma.
Contra o futebol eu nada tenho (só não me peçam para listar os nomes dos
jogadores, não os conheço), mas contra a latria,
o culto a outro que não o SENHOR Deus criador dos céus e da terra, isto sim,
incomoda-me muito, pois Sua glória não pode ser dada a nada ou ninguém que não
Ele próprio (leia Isaías 42.8).
“Mas é só esporte!” alguém
pode dizer. Tudo bem, o gosto por esportes também não é errado. Aliás, a Bíblia
não despreza o cuidado com o corpo e os exercícios (1Timóteo 4.8). O apóstolo Paulo também apreciava os esportes, e
ilustrou suas mensagens com exemplos da competição entre atletas, e nos
encorajou a fé falando do prêmio que temos a receber com nossa vitória
espiritual (1Coríntios 9.24-27; 2Timóteo
2.5). Conhecendo sua formação cultural grega, sem subestimar a judaica, seria
razoável crer que Paulo tenha praticado esportes e, no mínimo, tê-los conhecido
bem.
Volto a dizer: o problema
não está nos esportes, mas no modo como o brasileiro deposita suas esperanças e
devoções buscando preencher o vazio do coração. A obsessão pelo futebol abafa o
grito da alma do brasileiro. Povo sofrido que não encontrou seu Deus, nem se
rendeu aos braços do Pai!
Enganado desde os primeiros
anos do ‘descobrimento’ europeu, reprimido pelas catequeses que tolheram seu
espírito imaginativo, espoliado pelas Metrópoles nas riquezas naturais que o
Criador ofereceu, confundido pelo sincretismo da senzala com a casa-grande, o
brasileiro vive ainda uma crise de identidade. Nem branco, nem negro, nem
índio, um sei-lá-quem nascido desta mistura, advogaria em sua defesa Darcy
Ribeiro.
Vivendo entre o sonho e a
realidade, o brasileiro lança suas frustrações políticas, morais e espirituais
no esporte, confirmando a advertência de João Calvino: “O coração do homem é
uma fábrica de ídolos!”
É neste cenário que surge a
futebolatria, disfarçada de
patriotismo, e o brasileiro é mais uma vez enganado. Esquece-se da pobreza, da
fome, da vida, esquece-se de Deus. Ídolos – literalmente – surgem a todo tempo,
e o verdadeiro Deus não é lembrado. A Ele não sobem orações, nem clamores, só o
grito da torcida, e vaias também (holocaustos e sacrifícios não aceitáveis: Salmos 50.8,9; 51.16; Isaías 1.10-17).
O ‘caneco’ de ouro parece ser a solução de todos os problemas, o encontro com o
divino, a libertação da alma em cadeias...
“Ó Brasil, quando despertarás? Quando renderás culto ao SENHOR?
Quando provarás a verdadeira felicidade? Quando serás, realmente, uma nação
abençoada? Quando provarás a alegria de ser bem-aventurado por ser o povo cujo Deus é o SENHOR?” (Salmo 144.15; 33.12)
Rev. Gilmar Araújo Gomes
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*O dicionário diz que a criação de novas palavras chama-se neologismo. Acho que aqui temos um neologismo: FUTEBOLATRIA – adoração, culto ao futebol.
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