SOZINHO NA MULTIDÃO
"Não seguirás a multidão para fazer o mal." (Ex 23.2)
Por volta de 1640, o artista holandês Jan Lievens expressou
em xilografia (entalhe na madeira) um retrato marcante da realidade humana, a cena
é intitulada “Caim mata Abel”. A paisagem árida imaginada pelo autor permite
notar ao fundo os espinhos pontiagudos da dor e da maldição (Gn 3.17,18); a
fumaça sobe de um holocausto, lembrando-nos o motivo da inveja do homicida (Gn
4.4,5). A cena transporta o observador para o exato momento do pecado. Abel, já
caído sobre seu braço direito, estende o outro braço na direção de Caim, tentando,
sem sucesso, impedir o fraticida. O irmão mais velho, contendo a vítima, segurando-a
pela vestimenta de peles, ergue com o braço esquerdo o que parece ser uma
queixada de animal.
Há alguns dias, a barbárie se manifestou na periferia na
cidade paulista de Guarulhos. Ao soar de um falso alarme, dezenas de pessoas
avançaram com selvageria sobre uma mulher que chegava da igreja, com bíblia em
mãos, e diante de suas filhas. O motivo do ataque? Alguém disse que ela
maltratava crianças. A mulher foi espancada até à morte por causa de um falso
testemunho.
Semana passada, no estado de Pernambuco, o terror tomou as
ruas com a greve dos policiais. Sem a espada da autoridade para contê-los (Rm
13.4), centenas de criminosos assaltaram lojas, saquearam produtos, carregaram
roupas, mataram.
Os exemplos acima têm algo de comum. Eles confirmam a verdade
do ensino bíblico sobre o coração humano, que é enganoso e desesperadamente
corrupto (Jr 17.9), propenso a furtar, mentir e usar de falsidade para com o próximo
(Lv 19.11,16). As Escrituras estão certas: “todos se extraviaram e juntamente
se corromperam; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.” (Sl 14.3). Mas, alguém
pode perguntar: se todos são assim, por que nem todos estão furtando, mentindo
e matando abertamente, diante dos olhos? Então, responderia: Até nas exceções
as Escrituras acertaram! O texto de Ex 23.2 em epígrafe registra a solidão e o
anonimato como incentivo para o coração depravado do ser humano. Os criminosos
em Guarulhos e Recife estavam tão sozinhos quanto Caim. A multidão produz esta
falsa sensação de segurança. O indivíduo desaparece na turba. Mesmo dentro da
multidão, sozinho para pecar.
A solução para frear os instintos de nosso coração corrupto
é o afastar-se da multidão, que sempre tende para o mal, lembrando que “os
olhos do SENHOR estão em todo lugar, contemplando os maus e bons.” (Pv 15.3; Sl
11.4,5).
Rev. Gilmar Araujo Gomes, VDM
Pastor
(Mensagem Pastoral para o boletim dominical da Igreja Presbiteriana LUZ do dia 18/maio/2014)
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